De Jessica Soares - estudante de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais
Todos nós temos que firmar diversos compromissos ao longo da vida, sejam eles com outra pessoa, com algum objetivo ou causa. Como futura jornalista, não pude deixar de pensar na grande responsabilidade que assumi ao escolher essa profissão: o compromisso com a verdade. Muitos escolhem ignorar esse dever em prol do sucesso, alguns vivem a constante busca pelo seu encontro, e outros atuam na sua defesa. E, como não poderia deixar de ser, o cinema ilustrou de forma belíssima todos esses casos.
Charles Tatum encontrava-se em um momento difícil de sua carreira: fora despedido de 11 jornais devido a 11 razões diferentes (todas ligadas, provavelmente, a sua difícil personalidade). Sem dinheiro, passa a trabalhar num jornal de uma pequena e pacata cidade. Após um frustrante ano, ele ruma a um local onde cobriria uma desinteressante corrida de cascavéis. Tatum, porém, descobre um homem preso em uma mina e vê nesse evento sua grande chance. Em busca do sucesso, toma controle da situação e transforma o resgate do homem em um show nacional, atraindo milhares de curiosos. Procurando extrair o máximo da situação, atrasa deliberadamente o resgate, mantendo o homem preso por seis dias e não apenas por algumas horas – e os resultados disso não são os melhores.
Com essa premissa A Montanha dos Sete Abutres levanta uma questão que se torna ainda mais importante se considerarmos que o longa foi produzido no início da década de 50. Se em algum momento o chamado “Quarto Poder” possuiu o caráter nobre de “fiscalizador”, sua credibilidade vem sido perdida e cada vez mais é visto como desprezível manipulador. Mesmo que a imparcialidade seja algo inatingível não significa que o jornalismo seja sempre falho e alvo de desconfiança. Prova disso foi a investigação conduzida pelos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, do “Washington Post”, sobre o escândalo do Watergate, que levou à renúncia de Richard Nixon à Presidência dos Estados Unidos.
Ambientado no clima político explosivo vivido naquela época, Todos os Homens do presidente, de 1976, constrói um retrato do bom jornalista: Woodward, com seu hábito de perguntar o que lhe vem a cabeça, obtém assim importantes informações; Bernstein consegue novas fontes cativando seu entrevistado, que mesmo relutante no início, é levado a falar. Por fim, Bradlee, editor-chefe do jornal surge como um verdadeiro herói, não hesitando em impedir a publicação de informações incertas e, quando, ao contrário, tem confiança no que lê, sente prazer em guiar seus repórteres rumo à perfeição. A verdade parece ser a única coisa que interessa de fato ao jornal, que prefere enfrentar algumas dores de cabeça invés de simplesmente esquecer o assunto.
Este filme ainda nos lembra outro personagem imortalizado pelo cinema: Edward R. Murrow. Lendário âncora da CBS, suas críticas e reportagens mostraram-se essenciais para a queda do senador McCarthy, que comandou uma verdadeira caça as bruxas aos supostos simpatizantes do comunismo em território americano. Os eventos do filme Boa noite e boa sorte, de 2006 acontecem em um curto período da década de 50 e acompanham de forma impecável Murrow e seu produtor Fred Friendly nas pesquisas que resultaram em um programa em que as palavras de McCarthy foram usadas contra ele próprio. Foi revelada assim a verdadeira face do senador, inspirando ações críticas de outros jornalistas e políticos.
Mais tocante do que as ações e o papel desempenhado por Murrow é, sem dúvida, o discurso que inicia e encerra o longa, feito diante da Associação de Diretores de Notícias de Rádio e TV dos EUA em 1958:
“(...) Este instrumento pode ensinar, ele pode iluminar, sim, e pode até mesmo inspirar. Mas somente o poderá fazer à medida que estivermos determinados a usá-lo para estes fins. Caso contrário, ele nada mais é do que um emaranhado de fios e luzes em uma caixa. Há uma grande e talvez decisiva batalha a ser travada contra a ignorância, a intolerância e a indiferença. E nessa batalha, a televisão pode ser uma arma útil”.
Já se passaram 50 anos. Não só a TV se tornou esse simples “emaranhado de fios e luzes em uma caixa”, como tantos outros meios de comunicação vêm sido usados, na maioria das vezes, como entretenimento vazio e descartável. Há mais de 50 anos se questiona a falta de compromisso com a veracidade dos fatos e manipulação deliberada em prol dos interesses da minoria poderosa.
Se os meios de comunicação têm, de fato, tanto poder como esses personagens atestam, já é hora de começar a fazer valer o imponente título de Quarto Poder. Quem dará o primeiro passo?
Se os meios de comunicação têm, de fato, tanto poder como esses personagens atestam, já é hora de começar a fazer valer o imponente título de Quarto Poder. Quem dará o primeiro passo?
4 comentários:
Que post bacana! Uma ótima reflexão para os futuros jornalistas! Gostei muito!
Li umas outras postagens e são igualmente boas.
Excelente blog!
Oi, Jéssica e equipe do SFW!
Que riqueza de texto. Assisti "A Montanha dos Sete Abutres" na época de faculdade, com o professor Nísio Teixeira, do Uni-BH. É um dos filmes na lista de filmes que discutem a nossa profissão fundamentais para que nós jornalistas não esqucemos da nossa maior premissa: a verdade.
Adorei esse post! Sou suspeito pra falar desse assunto pq adoro comunicação, mídia e jornalismo. Vou para por aqui pq se não vai render um post-carta...rs.
Abcs,
=]
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Ah, já ia me esquecendo: dê os parabéns à Jéssica. Precisamos de jornalistas assim q sejam mais reflexivos com a nossa profissão.
Realmente, post bastante interessante. Mts jornalistas, durannte o curso e após formados, se esquecem daquilo que os guia: a verdade. Sempre, sempre!
as dicas de filme são ótimas tmb!
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