quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Novatos mandam bem


O Campeonato Mineiro do Módulo II de 2009 traz algumas surpresas até o presente momento, na 5ª rodada de um total de 22. Os doze times, com exceção do Democrata de Sete Lagoas, que perdeu as quatro partidas até agora, o campeonato está bastante disputado.

O time de maior prestígio é, sem dúvida, o Ipatinga, que enfrenta dificuldades e está na sexta posição apenas. Agora é que o time começa a engrenar no campeonato. Como o Módulo II é disputado em turno e returno, o clube pode conseguir o acesso com facilidade.

Mas as grandes surpresas da competição são os récem-promovidos América de Teófilo Otoni e Funorte de Montes Claros. O primeiro é o líder do certame enquanto o segundo está em quinto, a dois pontos da zona de classificação.

O clube de Teófilo Otoni ainda tem um fator de suma importância para conquistar as vitórias no estádio Nassari Mattar: sua apaixonada torcida. No primeiro jogo, por exemplo, contra o Ipatinga, os 4.300 ingressos colocados à venda foram consumidos pelos americanos, que fizeram do estádio um verdadeiro caldeirão. A equipe começou vencendo, inclusive.

A torcida do Funorte também tem comparecido, porém, em menor número. 2.466 acompanharam a vitória da equipe por 2x1 sobre o Democrata-SL, de um total de 4.000 postos à venda.
O lucro do América de Teófilo Otoni em borderô divulgado no site da Federação Mineira foi de R$ 27.504,00, maior do que muitos ganhos de times do Módulo I do Campeonato Mineiro. A torcida e a cidade estão realmente empolgados com o time.

Depois de cinco rodadas, portanto, parece que o América-TO brigará pelo acesso, enquanto o Funorte pelo menos estará longe da briga para não cair, já que há times mais fracos tendendo a disputar a Terceira Divisão em 2010.

Para não ficar em cima do muro, dou meus palpites: América-TO e Ipatinga estarão na divisão de elite do Campeonato Mineiro em 2010 enquanto Democrata-SL e Itaúna vão disputar a Terceirona no ano que vem. Que times novos possam adentrar a divisão especial do futebol mineiro, dando uma sacudida para evitar que os mesmos de sempre subam e caiam.

Matheus Laboissière, 21 anos, natural de Belo Horizonte, estudante de jornalismo do Uni-BH, diagramador e assessor da EPAMIG, colunista do site FutNet, idealizador do Espelho Digital e futuro colaborador do Sem Fronteiras.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A volta dos que não foram


A vida prega peças naqueles que zombam dela. A vida ensina aos mortais a humildade. A vida escreve-se por linhas tortas, de altos e baixos. Melhor será aquele que possuir sabedoria para lidar com as provações dela.

E um mortal subestimou por inteiro sua condição de aprendiz. Bradou a quem quisesse ouvir que era grande, estava pertecente ao grupo dos seletos do futebol mineiro, quiçá do nacional. Cometeu a injúria de se autoproclamar a "terceira força de Minas".

O tempo. Sim, o tempo. Ele passa, as situações mudam, as realidades se modificam. O mortal a que me refiro é o sr. Itair Machado, presidente do Ipatinga Futebol Clube, fundado em 1998. O sucesso do time começou com o bi campeonato mineiro em 2005 e 2006, continuou com a quarta colocação na Copa do Brasil de 2006 e culminou com a ascensão à Série A do Campeonato Brasileiro em 2008.

O Ipatinga já havia alcançado seu topo. Estava na hora de fazer o caminho de volta. A verdadeira terceira força de Minas Gerais, o América Futebol Clube, estava em um momento ruim, no Módulo II do Campeonato Mineiro. O Tigre, como é conhecido, desceu bastante rápido os degraus que havia galgado. O clube hoje realmente é de Segunda Divisão, Brasileira e Mineira, e passando aperto no campeonato estadual.

Parece que todo aquele alvoroço provocado por seu presidente deu lugar a tristezas, ao abandono, ao silêncio. E a vida deu sua lição a Itair Machado. Para ser grande, o Ipatinga deveria pelo menos ter tradição, construí-la, assim como faz o América desde sua fundação, em 1912. Para ser grande, tem que ter história, conquistas memoráveis, como o decacampeonato entre 1916 e 1925 e o Campeonato Brasileiro da Série B de 1997. Para ser grande, deve-se ter humildade e caminhar com os pés no chão. Coisa que nem o Ipatinga, muito menos Itair Machado, sem contar sua finita torcida, conseguiram.

E o resultado está aí. E pode não ter acabado a maré contrária. O time se encontra em 10º no Módulo II, com uma derrota para o récem-promovido da Terceira Divisão América de Teófilo Otoni, fora de casa, e um empate em pleno Ipatingão contra o também novato e sem história Poços de Caldas, o Vulcão.

A história de pouco mais de uma década do Ipatinga Futebol Clube tem saldo negativo. Saldo este daqueles que estão voltando sem terem sido nenhuma vez.

Matheus Laboissière, 21 anos, natural de Belo Horizonte, estudante de jornalismo do Uni-BH, diagramador e assessor da EPAMIG, colunista do site FutNet, idealizador do Digital e futuro colaborador do Sem Fronteiras.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O mal da Libertadores

Hoje pretendo abordar um fato inusitado no futebol brasileiro: times que surpreenderam e chegaram à Copa Libertadores. Porém, alguns após alcançarem tal façanha, pereceram pelas divisões inferiores nacionais e/ou estaduais.

E a pergunta que fica é: por que estes times, que deveriam pelo menos manter-se na situação em que se encontravam quando da disputa da competição sul-americana, caem pelas tabelas?
Antes de analisar os times, melhor citá-los, assim como suas trajetórias antes e depois do mais importante ano para estes clubes.

Bangu-RJ
O primeiro clube a superar as expectativas foi o Bangu-RJ, em 1985. A segunda colocação no Campeonato Brasileiro daquele ano manteve o time carioca na divisão principal do campeonato nacional em 1986. Porém, a 21ª colocação do alvirrubro fez com que o clube fosse rebaixada à Segunda Divisão do Brasileirão, que disputou em 1987.

Santo André-SP
O clube do ABC paulista venceu o Flamengo-RJ pela Copa do Brasil de 2004 e teve o privilégio de disputar a Libertadores do ano seguinte. Em 2005, o clube manteve boas campanhas no Campeonato Paulista, sem brilho na Série B do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, a 15ª colocação dentre 20 times deveria ter servido de alerta. Mas houve negligência. Em 2008, o clube estava na Segunda Divisão do estadual. Só melhorou agora, com a volta às elites paulista e brasileira.

Paulista-SP
Outro clube que teve história meteoro no futebol brasileiro foi o Galo de Jundiaí. Campeão da Copa do Brasil em 2005, em final contra o Fluminense-RJ, o clube não conseguiu manter boas campanhas. Aliás, a própria trajetória do Paulista na Série B daquele ano foi pífia: 15º colocado, a dois pontos do rebaixamento à Série C. 2006 foi um ano positivo, em que por pouco não subiram, pelo número de vitórias, duas a mais. Porém, em 2007 foi o desastre total. A equipe foi rebaixada à Série C do Campeonato Brasileiro somente dois anos após ter disputado uma Libertadores. E a queda livre não parou por aí. Com a nova Série C, que seria formada pelos quatro rebaixados da Série B mais os clubes que ficassem entre a quarta e a 16ª posições, o Paulista foi empurrado à Série D, que deverá conquistar pelo estadual de 2009. Ficou na primeira fase da competição, perdendo para Duque de Caxias-RJ e América-MG.

Depois de apresentar os times e suas histórias, pode-se perceber que todos estes clubes, considerados “pequenos”, não conseguiram manter o bom momento e caíram pelas tabelas. Uma das razões para tal fato é o investimento compensado pelas diretorias destes clubes. Reformas dos estádios para abrigar a competição internacional, contratação de jogadores acima da capacidade de pagamento destes clubes, tudo para dar alegrias às torcidas. Mas a euforia da classificação não se resumiu em felicidade durante a competição. O Bangu conseguiu apenas 11,1% de aproveitamento. O Paulista, 33,3%. O Santo André foi o melhor dos três, mas alcançou apenas 44,4% dos pontos disputados.

Ou seja, depois de disputarem a Libertadores, os times saíram na primeira fase da competição, cheios de dívidas, o que tornou a administração do futebol insustentável para disputar em condições de igualdade contra times do mesmo nível econômico.

Pois então, para os “pequenos”, vale a pena disputar a Copa Libertadores da América? Ou seria melhor galgar aos poucos, passo a passo, os degraus até chegar à competição internacional em condições de disputar para valer e assim, alcançar reconhecimento nacionalmente também? Sinceramente, tenho minhas dúvidas. E os exemplos de Bangu-RJ, Santo André-SP e Paulista-SP estão para alertar os torcedores, ávidos por uma participação na Copa Libertadores.

Matheus Laboissière, 21 anos, natural de Belo Horizonte, estudante de jornalismo do Uni-BH, diagramador e assessor da EPAMIG, colunista do site FutNet, idealizador do Espelho Digital e futuro colaborador do Sem Fronteiras.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O dote da noiva

Será que o futuro casal vai ser envolvido por uma verdadeira paixão?


Na Lei Islâmica, há uma norma segundo a qual, em um casamento, a noiva tem direito de receber um dote, o qual ela mesma deve indicar. Esse dote, ao contrário do que muitos pensam, é um simples presente, e não uma oferta, que o homem deve oferecer a sua futura esposa, como símbolo da sinceridade e dedicação que deve prestar a ela. Tudo isso, está registrado nas páginas do Sagrado Alcorão, na Surata (capítulo) 4, Versículo 4°: “E concedei às mulheres os dotes convencionais. Se elas, de bom grado, vos oferecerem algo, desfrutai-o com proveito.” O dote, ou Mahr, em árabe, pode ser usado da maneira que a noiva quiser, assim como pode ser bem diverso: uma viagem de turismo ou para a prática de rituais religiosos e até mesmo uma quantia em dinheiro.

Agora, estamos falando das Arábias, que por mais interessante que seja, está a no mínimo 10 mil quilômetros de distância. O internauta sem fronteira vai saber agora quem é a noiva mais cobiçada de Brasília, e não, nós não estamos nos transformando em um site de relacionamentos. Bem, essa poderosa pretendente atende pelo nome de PMDB. Essa rica noiva está sendo cortejada no momento por dois senhores, chamados PT e PSDB. Cada um deles está tentando convencer essa noiva que tem o melhor dote!

Mas já adianto uma coisa, não vai ser fácil! Os parentes da noiva são muitos, são tinhosos, duros na queda, ambiciosos também, é verdade, mas querem o melhor para sua queridinha! Sem dúvidas que o maior problema para concretizar uma união, ou a União, é o coro de vozes desses parentes, que destoa bastante.

De um lado, Michel Temer - Presidente da Câmara dos Deputados - Orestes Quércia, o senador Jarbas Vasconcelos e companhia bela, apóiam o casamento do PMDB com o PSDB, personificado em José Serra, governador paulista. Os dotes do tucano? Estar bem avaliado no principal e maior colégio eleitoral do país e ser o candidato mais bem cotado na sucessão presidencial. Além disso, defendem que a convivência entre PSDB e PMDB foi muito mais harmoniosa durante o governo Fernando Henrique (1995-2002) do que a relação atual com o PT. Vale ainda lembrar que o senador Jarbas quase foi o escolhido para ser vice de Serra na campanha presidencial de 2002.

Porém, como o PMDB é uma família um pouco desunida e ainda mais ouriçada, há aqueles que apregoam um novo acordo e portanto um maior dote – é claro! – deve ser discutido com o PT. Os simpatizantes do PT? José Sarney, Sérgio Cabral, Geddel Vieira Lima, Fernando Pimentel e companhia bela. Os dotes petistas são atraentes: toda a popularidade do presidente Lula e a poderosa máquina governamental. No caso do PT, o escolhido, ou melhor, a escolhida para fazer corte ao PMDB foi a ministra Dilma Rousseff, sacramentada e com as devidas bênçãos de Lula.

Falamos sobre os noivos, mas ninguém falou o que a noiva quer não é? Bom, aqui temos um consenso: o PMDB quer apenas a vice-presidência, seja o noivo quem for, e é claro, ministérios – muitos ministérios! -, controle de agências, autarquias e tudo o que tiver direito. Se você se perguntar se essa noiva pode pedir isso tudo, a resposta é sim! O PMDB comanda hoje as duas casas do Congresso Nacional, tem o maior número de prefeituras, vereadores, deputados, senadores e governadores. Enfim, é totalmente indispensável para a governabilidade, seja de Serra, seja de Dilma.

Esta é uma história de muitos capítulos, que tendem a ficar bem interessantes no decorrer de 2009. O noivo ainda não foi escolhido, mas o casório tem data marcada: 1° de janeiro de 2010. Sei que prever relacionamentos é sempre difícil, mas vai um palpite: a noite de núpcias vai ser uma ma-ra-vi-lha! Agora, os problemas sempre começam na lua-de-mel, não é mesmo? Seja ela com Dilma ou Serra. É aguardar para ver.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Damages

Foto: divulgação
“Não confie em ninguém!”. Esse não é apenas trecho de um dos fortes e bem escritos diálogos de Damages, série de ficção jurídica da TV estadunidense que vem cativando espectadores em todo o mundo. Na verdade, as quatro palavras formam uma imperativa advertência a todos aqueles dispostos a se entremear num universo repleto de ambição, mentira, interesse e traição.

Distante dos holofotes de um complicado caso judicial que movimenta uma indenização de cifras astronômicas, acontece um arriscado jogo de poder, onde não se pode confiar em ninguém.

Em Damages não existe a nítida e importuna separação entre joio e trigo. Todos os seus personagens - incrivelmente bem construídos - são essencialmente humanos: bons e maus, emotivos e frios calculistas. Curiosamente, a grande maioria tem caráter nada bem dosado. A perversidade e frieza superam os atributos mais admirados nos mocinhos da ficção.

Um dos méritos da série é trabalhar com os bastidores da injusta “justiça dos homens”, em que, por trás da batalha judicial envolvendo o bilionário empresário Arthur Frobisher (Ted Danson) e seus milhares de empregados, representados pela brilhante e sagaz advogada Patrícia Hewes (Glenn Close), é “permitido” chantagear, mentir, matar. Em Damages não existem limites nem escrúpulos. A ambição em ter aquilo que se almeja, perpassa qualquer regra ou convenção moral (o que é definido como certo ou errado).

O sucesso de Damages deve-se a uma série de fatores que interligam-se, dando origem a um dos melhores seriados da atualidade. A edição é um ponto positivo. Os flashbacks se encarregam de nos levar ao passado para entendermos o presente. As recorrentes transições temporais só fazem aumentar a tensão na medida em que a temporada se aproxima do fim.

O elenco, que, além da premiada Glenn Close e Ted Danson, inclui o excelente Zeljko Ivanek, Rose Byrne e Tate Donovan, é extremamente competente, dando vida a personagens complexos e intrigantes. O roteiro, muito bem desenvolvido e “costurado” não permite que os episódios se tornem desinteressantes e os personagens percam a vivacidade.

Em 2007, quando foi exibida a primeira temporada, Damages conseguiu sete indicações ao Emmy (Oscar da TV estadunidense), venceu nas categorias de melhor atriz em série dramática (Glenn Close) e na de melhor ator coadjuvante em série dramática (Zeljko Ivanek). Em 2008, conseguiu quatro indicações ao Globo de Ouro, vencendo na de melhor atriz em série dramática.

Assista ao trailer da primeira temporada de Damages (Clique aqui).

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A rivalidade pode ser saudável

18 de setembro de 1967. O Esporte Clube Santo André é fundado. O objetivo do novo clube era rivalizar com as equipes da região, como Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, já que no ABC paulita, sua região, não haviam outras equipes. O clube ficou conhecido no cenário nacional em 1984, quando terminou o Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão em 10º colocado. Um grande feito para o clube.

Cinco anos mais tarde, em 1989, nascia o primeiro rival do Ramalhão: A Associação Desportiva São Caetano, mais precisamente, em 4 de dezembro de 1989. O Azulão, creio, nasceu por influência do bom momento do rival em âmbito nacional. Mas o mais novo time do ABC paulista fez mais do que rivalizar com o Santo André. Ele conquistou o Brasil, encantou os sul-americanos. Os vice-campeonatos brasileiro em 2000 e 2001, além da segunda colocação na Copa Libertadores da América, em 2002, inflamaram de vez o ABC e região. O outrora grande do ABC, o Santo André, voltou a investir pesado no futebol para acompanhar o rival Azulão. Venceu a Série C do Campeonato Brasileiro de 2003 e a Copa do Brasil de 2004, sendo o segundo da região a disputar a competição sul-americana.

Um terceiro clube entrou para o profissionalismo. O Grêmio Barueri chegou para conquistar também seu espaço. E não é que o clube fez história? Ele é conhecido pelos seis acessos consecutivos no futebol paulista e brasileiro, indo da Série B-3 (Sexta Divisão do estado) até a Série B do Brasileirão. O Barueri é mais um que fora influenciado pelos crescimentos de São Caetano e Santo André.

E o futebol do ABC e região não parou por aí. Mais um clube almeja alcançar o sucesso dos rivais: O São Bernardo Futebol Clube. Fundado em 2004, o clube já conseguiu aparecer. Foi na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2005, quando chegou ao mata-mata da competição e revelou Rafinha, que depois foi contratado pelo Cruzeiro-MG. O time também conquistou, como o Barueri, acessos consecutivos nas divisões inferiores paulistas, chegando em 2009 na Série A2. Vai brigar pelo ineditismo de disputar a Série A1 em 2010.

A rivalidade, pois, pode trazer vários benefícios para o futebol daquela região ou município. Gerar renda, movimentar as ruas, proporcionar tristezas e alegrias, além de acessos de raiva. Isto é futebol, este esporte que, com certeza, torna as vidas dos torcedores de Santo André, agora na 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro, São Caetano, atualmente na Série B, Grêmio Barueri, estreante na Série A em 2009, e o caçula, São Bernardo, em busca da elite paulista, bem movimentada.

Matheus Laboissière, 21 anos, natural de Belo Horizonte, estudante de jornalismo do Uni-BH, diagramador e assessor da EPAMIG, colunista do site FutNet, idealizador do Espelho Digital e futuro colaborador do Sem Fronteiras.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O álcool na boca do povo

O companheiro entende de química? Não! Mas de álcool entende... - Imagem: Newscomex

O título sugere discussões como a Lei Seca, que entrara em vigor no dia 20 de junho do ano anterior, ou até mesmo os embates sobre a proibição ou não de bebidas em estádios de futebol, como o Mineirão. Contudo, não é preciso ser ingerido para estar na boca do povo, afinal o etanol brasileiro, mesmo após as descobertas de petróleo nas camadas de pré-sal, continua a figurar como um grande “pop star” das pastas de Minas e Energia e Economia, além de despertar a atenção e preocupação estrangeira.

Em resultado divulgado ao final de janeiro passado pelo Ministério de Minas e Energia, o álcool combustível bateu recorde de exportação, com a marca de 5,16 bilhões de litros, mais que o dobro de exportações de gasolina, realizadas pela Petrobrás, informa a assessoria do ministério. O preço do produto também subiu, 16%, sendo cotado a US$ 0,47. O total exportado em 2008, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA), foi 47% superior ao volume de 2007. Bons números, certo? Digamos que o álcool está na boca do povo. Mas permanecerá por muito tempo?

O crescimento das exportações nacionais deve-se a uma junção de fatores, dentre eles o aumento do barril de petróleo, que permaneceu por algum tempo cotado acima de US$ 100, a utilização do etanol com insumo industrial e a quebra da safra de milho do Meio-Oeste dos Estados Unidos, em decorrência de enchentes. Todos ajudaram a alavancar o produto no mercado. Na bolsa de Chicago, especializada em commodities, produtos de origem primária cotados nas bolsas de valores, o milho atingiu preço recorde. O resultado disso foi a importação por parte dos Estados Unidos, de 1,52 bilhões de litros, 30% do total exportado pelo Brasil.

Agora pensemos em 2009 e na crise econômica mundial. O presidente estadunidense eleito, Barack Obama, já anunciou cortes no setor econômico, e assim como o também democrata Franklin Delano Rosselvelt, eleito por quatro vezes presidente, entre 1932 a 1945 (quando faleceu antes de terminar seu mandato), Obama também pretende seguir a receita de Maynard Keynes e agir de forma protecionista, colocando o Estado para controlar as ações do mercado. Bom para a debilitada economia dos Estados Unidos, péssimo para o Brasil, que sofrerá com altas taxas alfandegárias que tendem a encarecer o etanol nacional frente ao etanol de milho deles. Caso a União Européia também assuma essa postura ante a crise, o álcool combustível perderá seus dias de glória e o doce sabor de 2008.

Se o contexto parece desanimador, eis um alento. O consumo interno de combustíveis também bateu recorde ano passado, com 105,9 bilhões de litros consumidos. O resultado apresentado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) revela outro ponto: o etanol assumiu a ponta dentre as matrizes energéticas consumidas por automóveis no país em 2008, a exemplo da gasolina e do gás natural veicular (GNV). Um fato que deveu-se a grande oferta dos carros total flex (que rodam a álcool ou gasolina) e pela adição de 3% de biodiesel ao diesel convencional, postando os biocombustíveis com 18,2% do mercado, de acordo com números da agência.

Se o preço do barril de petróleo e a política intervencionista de Obama entrarem em vigor, a tendência é que o preço do álcool possa cair mais e o produto de origem brasileira talvez ganhe definitivamente espaço e caia no gosto dos ainda receosos quanto ao custo-benefício deste combustível “limpo”, que é popular nos veículos e sob outro aspecto, nas mesas e bares de todo o país. Mas essa, já é outra história...

Melhor visualização com o navegador Mozilla Firefox