sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Entenda a crise na Bolívia

O Sem Fronteiras, traz ao seu público mais uma compilação de perguntas & respostas, tradicional nesta editoria, sobre mais uma crise internacional. Desta vez, a crise é aqui do nosso lado, na Bolívia. Nesta semana, o SF, por meio de sua editoria de Economia, de Lucas Fernandes, começou a explicar os problemas do país de Evo Morales. Contamos mais uma vez neste FAQ, com a qualidade do jornalismo da BBC.

Por que a oposição está protestando na Bolívia?

A oposição na Bolívia quer que o presidente Evo Morales volte atrás em sua decisão de cortar os repasses para os departamentos do dinheiro obtido com impostos sobre gás e petróleo.

O presidente diz estar usando o dinheiro para custear uma pensão para os idosos do país.

Os departamentos argumentam que são responsáveis pela produção da maior parte das commodities que geram o imposto e, por isso, deveriam ser mais beneficiados por eles, para que possam investir na melhoria da condição de vida de suas populações.

Os protestos também são contra a nova Constituição, cujo texto foi aprovado no fim do ano passado sem o apoio da oposição.

O texto da Carta Magna dá mais poder aos indígenas bolivianos - que representam 60% da população do país, de acordo com o último censo - e confirma a nacionalização dos recursos naturais.

Segundo o analista da BBC James Painter, a Constituição ameaça os negócios e as elites agrárias do departamento de Santa Cruz – onde vive 25% da população boliviana. As propostas para limitar as posses de terra e promover a reforma agrária provocaram fortes reações dos latifundiários locais.
Para que entre em vigor, o texto ainda precisa ser aprovado em um referendo, que foi convocado por Evo Morales para dezembro.


Quais são as implicações políticas dos protestos para Evo Morales?

O presidente saiu vitorioso em um referendo revogatório realizado em agosto de 2008, sendo reconduzido ao cargo pelo voto popular. A votação mostrou a força política de Morales e deu fôlego para o presidente seguir em frente com as reformas que julga necessárias para beneficiar os mais pobres na Bolívia.

Mas o mesmo referendo reconfirmou no poder governadores dos departamentos dominados pela oposição. A Bolívia tem um longo histórico de governos instáveis e organizações civis fortes que pressionam o Estado para que atenda suas exigências, e não está claro se Morales conseguirá resistir a essa pressão.

"Na Bolívia, estamos acostumados com os precipícios, mas dizem que sempre voltamos para trás quando chegamos à beira", disse Rosanna Barragan, historiadora e diretora do Arquivo de La Paz.

Para Barragan, a situação atual representa uma das piores crises internas já vividas pelo país.

Onde os protestos estão acontecendo?

Os departamentos bolivianos de Tarija, Santa Cruz, Beni, Pando e Chuquisaca (que juntos foram a região conhecida como "Meia Lua") pleiteiam maior autonomia e têm sido palco há meses de protestos contra Morales. Eles ficam no leste da Bolívia e são os departamentos mais ricos do país, graças principalmente à produção de gás e soja.

O departamento de Tarija, por exemplo, possui mais de 80% das reservas de gás bolivianas.

O oeste da Bolívia, onde vive a maior parte da população indígena, é a região em que o presidente conta com mais apoio.

Como a oposição vem protestando?

Nas últimas semanas, os manifestantes vêm bloqueando estradas e tomando aeroportos e estações de trem. Também ocorreram bloqueios nos postos de fronteira com o Brasil. As pessoas têm sido impedidas de ir de um país para o outro, e o bloqueio também impede o fluxo normal de mercadorias.

Os manifestantes também têm realizado violentos protestos, frequentemente entrando em choque com forças de segurança. Isso tem forçado escolas, estabelecimentos comerciais e repartições públicas a fechar as portas.

Mas o protesto mais temido pelos brasileiros é a possível interrupção no envio de gás boliviano ao Brasil. No dia 9 de setembro, uma instalação de produção de gás foi tomada pelos manifestantes e, no dia seguinte, uma explosão atingiu um gasoduto, provocando um corte de 10% no envio de gás para o território brasileiro, de acordo com autoridades bolivianas.

Qual é o impacto de uma interrupção no fornecimento de gás boliviano?

Só o Brasil recebe diariamente cerca de 31 milhões de metros cúbicos de gás boliviano. A Argentina, outros 2,5 milhões de metros cúbicos. "Seria grave se o fornecimento de gás boliviano fosse interrompido", disse à BBC o economista Martín Krause, do Centro de Investigação de Instituições e Mercados da Argentina. "No Brasil, a indústria de São Paulo seria afetada e, na Argentina, fábricas e residências."

Cerca de 75% do gás consumido pela indústria paulista é fornecido pela Bolívia. Mas não só os vizinhos da Bolívia seriam afetados por uma interrupção – o próprio país andino pode sofrer prejuízos, já que lucra US$ 2 bilhões por ano com as exportações.

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