quarta-feira, 24 de setembro de 2008

8 - 80

Sempre enxerguei o Brasil como uma terra de muitos contrastes e discrepâncias. Um país onde as desigualdades são extremas. Parece que por aqui, é complicadissímo achar um meio-termo para o que quer que seja: é 8 ou 80. A média aritimética, 44, parece que dificilmente será um dia alcançada. Até mesmo quando recebemos resultados de alguma pesquisa, seja ela qualitativa ou quantitativa, mostrando qualquer aspecto sobre o país, os resultados estão em um extremo que impressiona.

O Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - divulgou na última segunda-feira, os primeiros dados relativos ao Pnad 2007 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: os números foram sem sombra de dúvidas, excelentes e dignos de aplausos. Os dados mostram que a renda per capita dos mais pobres cresceu substancialmente entre 2001 e 2007: a renda dos 10% mais pobres cresceu a uma taxa de 7% ao ano, quase três vezes mais do que a média nacional, de 2,5%, e dos 10% mais ricos, de apenas 1%.

Ainda segundo a pesquisa, enquanto a pobreza caiu 8,5% na América Latina entre 1990 e 2005, no Brasil a redução foi de 10,2% entre 2002 e 2007. Ou seja: o Brasil conseguiu uma redução da pobreza em cinco anos maior do que a conseguida pela América Latina em 15 anos. Os dados ainda mostram que no período 2001-2007, quase 14 milhões de pessoas mudaram de estrato social, ou seja, subiram na conhecida pirâmide social.

Estes resultados apresentados mostram claramente uma coisa: a eficiência dos programas sociais dos últimos três governos federais - Fernando Henrique (1998-2002) e os já quase sete anos do governo Lula. Esses dois presidentes conseguiram através de medidas corretas, levar aos mais pobres, um pouco da riqueza que esse gigante país produz. Não cabe aqui dizer se, por exemplo, o Bolsa Família é o programa do tipo "dá o peixe e não ensina à pescar": o fato é que através deste programa, famílias que antes não tinham nenhuma perspectiva de melhora de vida, estão conseguindo finalmente viver com o mínimo de dignidade.

Porém, não podemos ficar no clima do oba-oba: o que está sendo feito, tem que continuar. Os dados do Pnad ainda mostram que os 10% mais ricos se apropriam de mais de 40% da renda, ao passo que os 40% mais pobres se apropriam de menos de 10% da renda. A diferença entre pobres e ricos, é claro, nunca vai acabar, mas é necessário uma redução destes números para que assim os mais pobres tenham um maior acesso às riquezas do país.

Pois bem caros sem-fronteiras, que coisa boa de ser dita, não é? Pois bem. Mas como disse no início dessa postagem, o Brasil sofre a síndrome do 8-80 e logo depois de termos recebido estes números maravilhosos do Ipea, um dia depois, terça-feira, a ONG Transparência Internacional veio com um relatório que dizia o seguinte: "Combate à corrupção estanca no Brasil".

Pronto. Aí vem o outro lado da gangorra: o índice de percepção de corrupção – que reflete como cidadãos em diversos países vêem o combate a este mal – calculado para o Brasil permaneceu em 3,5 pontos, intocado em relação ao ano passado, em uma escala que varia de 0 a 10. Quanto mais próximo do zero, maior a corrupção no país. Na rabeira da lista, Iraque e Mianmar (1,3) e Somália (1,0). No topo, Dinamarca, Suécia e Nova Zelândia com 9,3 pontos.

A Transparência Internacional diz o seguinte sobre a América Latina, exatamente o que disse neste post: "Os esforços anticorrupção parecem ter estancado, o que é particularmente perturbador à luz dos programas de reformas de muitos governos". É o caso do Brasil. Sim, claro que é válido, importante e tudo o que dissemos sobre os resultados obtidos pelo Ipea, porém, não podemos achar que fica só nisso. Para que o país avance, prospere, se desenvolva, é necessário esforços conjuntos, de todos os segmentos da sociedade civil, política e econômica.

E realmente no quesito combate a "corrupção" o Brasil está devendo, e muito. Nunca na história desse país, como diria Lula, tantos escândalos vieram à tona nos últimos anos. Infelizmente esses escândalos são nosso calcanhar-de-aquiles rumo à um país no rol dos mais desenvolvidos. Perdoem-me o ceticismo, mas tenho muito medo da classe política fazer uma analogia dos dados do Pnad e da Transparência Internacional e concluir: "Ou seja, podemos continuar na roubalheira".

É a síndrome do 8-80...

1 comentários:

Wander Veroni Maia disse...

O meio termo está cada vez mais raro mesmo...a desigualdade social é latente, por mais que haja um crescimento da classe emergente. Parabéns pela análise!

Abraço,

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