terça-feira, 10 de junho de 2008

Salgaram meu pão francês


O café da manhã do trabalhador brasileiro há tempos não andava tão salgado. Os alarmistas, quase inconscientemente, apontariam os biocombustíveis, a exemplo do famigerado etanol. De certo, a escassez de açúcar ainda não atingiu o território tupiniquim, ao contrário, o “ouro branco” dos canaviais deve alcançar sua safra recorde este ano. Neste momento, as donas-de-casa pensarão que a batata assou de vez! O pobre assalariado já se queixa e confere a este autor uma deixa: eis o vilão! O quentinho e saboroso pão.

Ora, a questão não se limita ao simples aumento no preço da saca de trigo, como dizem alguns analistas de plantão. A Argentina sofreu meses atrás com a crise do setor agrícola. Caminhões abarrotados de trigo permaneceram dias parados na fronteira com o Brasil. Isso inviabilizou a chegada do alimento ao país, totalmente depende da produção hermana. Dados atuais revelam: o Brasil importa 70% do que consome. Isto é o mesmo que dizer: “esta é a pior crise dos últimos vinte anos”.

O governo argentino tende a segurar o trigo depois deste episódio dramático para os planos brasileiros, e, principalmente, após a confirmação do panorama mundial, que enaltece o fato de estarmos diante de uma Crise Alimentícia. Sabiamente, Cristina Kirchner segura os excedentes argentinos a fim de conter outra crise que se abate sob sua gestão – a crise energética, que advém da administração de seu marido. Sendo assim, a Argentina espera trocar o trigo por petróleo (com a Venezuela) e gás natural (com a Bolívia).

A saída encontrada pela cúpula “lulista” foi novamente se render ao charme de Bush e negociar os excedentes estadunidenses. Nem tão débeis foram os comandados de Lula, muito menos charmoso é George. A solução encontrada seria essa, seja qual fosse o governo. Contudo, a população sofre com os incontáveis aumentos, repassados pelas indústrias, por meio da inflação, já que o trigo dos Estados Unidos é mais caro e demanda maior frete em relação ao argentino. Perdem as empresas nacionais, que aguardam a matéria-prima, agora com tempo de desembarque ainda maior.

O internauta certamente estará angustiado após inúmeros panoramas desanimadores. Mas, como nem tudo são espinhos na vida do trabalhador, eis que trago números desta segunda-feira mais animadores. A safra gaúcha aumentou 15% entre o 1º semestre de 2007 e o 1º de 2008. A elevação do preço por hectare em R$ 80 (de R$ 400,00 para R$ 480,00), contribui para que produtores passem a investir também no trigo. Estes fatos elevarão a produção nacional para 5,1 milhões de toneladas. Vale lembrar que a auto-suficiência em trigo se dará ao atingirmos 10 milhões de toneladas. Até lá não se assuste ao ir à padaria. O pão de sal salgará o paladar de todos.

Mas, se acredita em milagres, vá com fé! Porque Deus pode até ser brasileiro, mas o trigo é importado.
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6 comentários:

analise ia disse...

na bahia alguns padeiros passaram a utilizar farinha de mandioca. o pão não fica francês, mas o preço é brasileiro.

Anônimo disse...

Esse é o meu velho e bom Brasil!! no final a conta a ser paga sobra para o trabalhador!
Lucas, me ensina a escrever igual a você?

Rafael Sandim disse...

Lucas, me ensina a escrever igual a você? [2]

Camila Paulos disse...

Ainda bem que eu não tenho o hábito de ter o pão francês diariamente no meu cardápio!
Lucas, me ensina a escrever sobre economia igual a você? rs!
Parabéns pelo blog, tem de tudo!

Guilherme disse...

Alguém jah disse q esse garoto é um gênio?
Pra ñ fugir do clichê: me ensina a escrever sobre economia igual a você? Rsrsrsrs

Lucas, é com prazer que leio mais um texto seu. Vc tem talento e ainda chega na Globo! Li os textos do seus colegas e digo: vcs formam uma grande equipe.

Unknown disse...

Lucas,

Fiquei impressionado com esta relação do trigo argentino e com o fato do governo segurar os estoques para obtenção de energia.

Excelente! O texto é um dos mais leves desse blog e mesmo lendo "Salgaram meu pão francês", mais de um mês depois da sua publicação, sinto o quanto a informação nele contido segue viva no cotidiano brasileiro.

Este texto fale a pena ser republicado. Magnífico!

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