terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Um “tô nem aí” para a crise


Em meio à crise mundial, desencadeada pelo crédito subprime, que afugenta os principais mercados e instituições financeiras do planeta, um setor ignora a densa névoa vinda do Atlântico Norte e já prevê crescimento na ordem de 40% este ano. Ora, caro internauta sem fronteiras, falo do microcrédito, uma modalidade em fase embrionária, que desde a segunda metade da década de 80 no Brasil, vem sendo aplicada através da iniciativa das comunidades e com o apoio do poder público.

O volume de crédito ofertado em 2008 cresceu em todos os meses do ano e pretende aumentar ainda em 2009, é o que afirma o superintendente de microfinanças do Banco do Nordeste (BNB), Stélio Gama Lyra Júnior. “Estamos trabalhando com a meta de crescer 40% em 2009. Para o setor informal, não trabalhamos com cenário de crise”. A instituição detém maior fatia do mercado, atingindo 30% de aumento em relação a 2007, o que representa um empréstimo de quase R$ 1,1 bilhão.

Para Maria de Fátima Rodrigues, do bairro Serrinha, periferia de Fortaleza, a crise não existe. “Aqui não mudou nada. Só tem crise para quem tem dinheiro, muito dinheiro”, afirma. A senhora adquiriu um empréstimo de R$1 mil no Banco do Nordeste, em novembro, época em que os bancos informaram perdas milionárias. O mundo parecia reviver os rumores de um “tsunami”, mas no Brasil, com disse há pouco o presidente, chegava a marolinha (ele só não mencionou que seria para parte da população).

Saiba mais sobre o microcrédito

O microcrédito - o prefixo já denuncia o ultraje - é uma variedade de empréstimo, que no país, destina-se às camadas mais baixas da sociedade, que porventura, não tem acesso as formas convencionais de crédito. Uma política de microfinanças que, no governo Lula, ganhou força e notoriedade, junto aos incentivos ao médio-produtor.

Todavia, como o internauta deve ter percebido, o problema dos “micro”, é justamente a limitação financeira desta modalidade. O Banco Central (BC) limita a R$ 500 o desembolso para pessoas físicas e R$ 1 mil para pessoas jurídicas. Alguns consideram os créditos uma esmola do poder público. Não é o que diz a Fundação Getúlio Vargas. Em pesquisa realizada com 175 empresários de Heliópolis, São Paulo (capital), em 2007, a FGV revela crescimento de 60% dos nos negócios avaliados.

Este seguimento, antes dominado por agiotas, pode até ter conquistado uma fatia importante, mas não é segurança de crescimento e resolução dos problemas da população mais carente. A demanda do “micro”, cada vez mais popular entre àqueles recebedores do “mínimo”, ajuda a aquecer a economia de uma classe à margem até pouco tempo. Mas também gera problemas (ora, como diria meu amigo, adepto a ditados, “rapadura é doce, mas não é mole não”!).

Sem o devido auxílio e instrução, o desembolso ajuda, em muitos casos, a alimentar projetos inviáveis, gerando dívidas e mais desespero em sertanejos, comerciais das periferias de grandes centros urbanos, desempregados e demais cidadãos, que sonham em integrar a classe média, transformando-se em consumidores em potencial – de abrir a carteira, sacar o cartão e viver inundado de contas e privilégios que o operariado tem. Enquanto isso não chega, o microcrédito enche de esperança os lares menos favorecidos deste país de constrates.

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8 comentários:

disse...

Dona maria está 'meio' certa.
Na verdade a crise atinge a todos, mas os menos fortunados não a sentem, pois tem tantas preocupações em como conseguir a grana que para eles a crise está no mundo desde que o mundo é mundo!!!

Abços

PS. que bom voltar aqui!

Anônimo disse...

ai que texto grande!
rsrsrs

o Brasil ainda nao ta sentindo mto a crise, pelo menos eu nao , hehe...talvez essa crise só atinja quem faz gdes investimentos...bem, sei lá..

Anônimo disse...

Matéria muito interessante. Realmente, o micro crédito é uma maneira de "institucionalizar" a agiotagem, claro, que com juros bem mais módicos.

Fiz uma matéria sobre o assunto pra faculdade abordando também a questão do microsseguro, outro produto que promete bombar nos próximos anos. Funciona do mesmo jeito, é um seguro para pequenos serviços, bens, valores, voltado geralmente para as classes C, D e E. Com isso, as seguradoras pretendem criar uma "cultura do seguro" junto a população brasileira.


Tudo isso começou com o Muhammad Younus. Desde que ele ganhou o Nobel, e se tornou o "banqueiro dos pobres" (coisa que eu não acredito), muita gente vem tentando seguir o exemplo dele.

Guilherme disse...

Lucas,

Essa matéria sore o microcrédito trouxe à tona uma discussão importante: a necessidade das políticas paliativas do governo e sua ampliação desde os tempos de FHC.

Você encerrou dizendo tudo e aqui vai aquela frase da posse do Lula, que tornou-se inesquecível, afinal, ele nunca mais tocou nela por mero comodismo: "não basta apenas dar o peixe, tem que ensinar a pescar".

Grande abraço e como diria você: sensacional matéria!

Unknown disse...

acredito que o povo brasileiro ainda não está ligando muito para a crise mundial pelo fato de não nos ter afetado. E acredito que essa é a maneira certa. Ninguém toma remédio antes de estar doente. Acredito que só precisamos temer quando tal crise começar a nos afetar, até lá é dar um "nem ai" para a crise mesmo...

--
www.moolegal.wordpress.com
humor inteligente!

Erich Pontoldio disse...

Antes do crédito para pessoas despreparadas pq não dar educação, treinamento e muito conhecimento para que o projeto não morra em meses?

Benhur disse...

Ah, no fim das contas a crise foi algo bom para o nosso país. Países que eram credores passaram a ser devedores. Não temos mais dívida externa, isso é ótimo para o Brasil!

Viviane Righi disse...

Concordo com o que vc mencionou a respeito do microcrédito. Realmente é um abuso o que fazem com as pessoas menos favorecidas.

Eu não estou dizendo que elas nunca poderão ter seus direitos ampliados, mas sim que as políticas que abrangem essa camada social deveriam apresentar outras soluções mais satisfatórias.

Conheço uma senhora, por exemplo, que custou a conseguir sua aposentadoria, após anos a fio trabalhando como lavadeira em residências. Com o dinheiro que agora recebe todo mês, ela já comprou "não sei quantos celulares", aparelhos eletrodomésticos e outros. Com a empolgação, ela extrapolou nas compras e agora precisa destinar a merreca que recebe para pagar os empréstimos que foi "obrigada" a fazer para pagar essas dívidas.

E eu te pergunto: "problema dela"??? Creio que não é só dela... faltou orientação adequada para esta senhora que, inclusive, já é uma pessoa idosa.

Precisa dizer mais alguma coisa???

Abraços!

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