quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sob a bíblia de Lincoln e ao lado de Clinton

Imagem: O temente a Deus, Barack Obama - Reuters

Passado e futuro lado a lado na Era Obama

Nem o frio cortante da capital estadunidense, Washington, quiçá as névoas acinzentadas e espessas da crise financeira que assola, até mesmo, as nações mais abastadas, foram suficientes para que um jovem político, filho de queniano com uma cidadã havaiana, sobreposse sua mão esquerda sob a Bíblia usada pelo emblemático Abraham Lincoln, e com a direita jurasse respeitar uma das constituições mais antigas da história, pedindo ao Deus cristão, no final do ato cerimonial, força para guiar uma potência, por oito longos anos, desgovernada.

A realidade esperara por Barack Hussein Obama II, como as flores aguardam o beija-flor, delicado ás a voar, polinizar e recomeçar um dos mais belos ciclos da vida. A rosa, quase rude a presença daquele que fora incumbido de jardinar a magna e bela flora silvestre, se apresentara fechada, insegura, ferida. Os espinhos que tanto causaram dor e discórdia, agora separam o jovem jardineiro temente a Deus de sua missão: podar as plantas, para que nasçam desse contato não só flores, mas frutos saudáveis e de sabor agradável a todos os paladares.

Vencer a desconfiança da conservadora sociedade estadunidense e seus preconceitos. Eis o grande desafio no campo político-nacional do agora 44º presidente dos Estados Unidos da América. O fenômeno afro-americano Obama obteve o acesso à Casa Branca com 53% dos votos válidos, contra 47% do seu oponente: John McCain, que condensou grande parte da elite, idosos, homens e brancos com ascendência européia. Talvez a oratória do ex-senador de Illinois tenha trazido à tona, em algum instante, a imagem do pastor negro e símbolo na defesa pelos direitos humanos: Martin Luther King. Talvez tenha sido apenas ilusão.

Certo é que Barack prepara-se para seu maior desafio, que certamente não se trata da avassaladora crise, decorrente da desvalorização da hipoteca subprime. Os fantasmas a serem vencidos, a flora silvestre a ser podada, a rosa vermelha armada de espinhos é a própria ala conservadora da sociedade estadunidense, fechada em seu universo de preconceitos, insegura ante a ascensão de um jovem, negro e filho de islâmico, além de ferida por seu egocentrismo, ao julgar em meio a um mundo globalizado e ao mesmo tempo, copiosamente polarizado, que o Império construído pela política do porrete e do jeito de vida americano, ainda reinasse só e soberano o globo.

Será preciso governar com democratas e republicanos, não repetir o erro de gregos e troianos, superar a desconfiança, e assim como o slogan do presidente brasileiro, deixar com que a esperança vença o medo. As expectativas são grandes e o jardineiro espera raiar o dia, para iniciar a obra que começara ao tocar na Bíblia de Lincoln, e assim como o ex-presidente dos Estados Unidos, não esmorecer jamais. Nem ante o fracasso, nem ante a dor.

Ao olhar para Hillary Clinton, adversária de um passado recente, Obama pode não ter enxergado, porém pressente uma fortaleza, onde sua nova faceta inevitavelmente buscará refúgio, para que o ardor de suas palavras não se perca no horizonte de possibilidades e insucessos do presidente anterior, abrindo assim, espaço para que o passado de glórias e o futuro pós-imperial possam se confrontar, debater e pôr-se de acordo um com o outro.

O inverno rigoroso pode até não acabar diante da chama renovadora de Obama. O que não pode cessar é a fé em abrir os olhos desta nação, que ao reencontrar as luzes da liberdade, tem de enxergar as chagas abertas por ela em seus irmãos e reconstituir laços. Ou ainda, construir algo que de fato nunca fora estabelecido: uma coexistência com o diferente, o Oriente, o socialismo. De si para consigo.
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7 comentários:

Anônimo disse...

Obama terá seu teste de fogo a partir de agora. Com certeza sua política será diferente da de Bush, menos agressiva internacionalmente e mais rigorosa internamente para conter esse monstro da crise econômica. Ele já começou: congelando os salários de assessores e encerrando os julgamentos em Guantánamo. Esse governo será melhor do que o de Bush.

Anônimo disse...

obama nao quer dizer nada/ democratas sim/democrata nao gasta em armas/ a economia cresce/ lembro do governo de jimmy carter (paz e amor) e do grande bill clinton (paz/amor/sexo/drogas) - o caminha do obaminha sera o mesmo - democratas no poder um mundo melhor. imagine um PT que nao fosse tao podre? é por ai...

Guilherme disse...

Lucas,

Que texto lindo! A idéia de trabalhar com parábolas, que faz alusão à Bíblia, livro sagrado que faz parte desse ritual, e nos remete a Lincoln.

Bem, a missão do Obama será árdua, e como graduando em RI, creio que a chave dos problemas norte-americanos está aí: resolver as diferenças internas, para ganhar força, contornar a crise e partir para o campo externo.

É isso!

Grande abraço.

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Lucas!

Você tem o dom do jornalismo literário, viu! Além de ser o cara que mais entende de política internacional e econômica que eu conheço! Não tenho dúvida: logo, logo vai ser editor do Diário do Comércio, depois Valor Econômico, e por aí à fora...hehehe

Ôh, sem rasgação de seda, nem nada. Você fez um dos textos mais lindos que li sobre a posse do Obama. E olha que hoje tive uma overdose de notícia para saber o que houve no mundo nessa semana que fiquei fora. Bom, estava na roça. E lá pega TV Globo e Rádio Itatiaia. Pelo menos, desinformado não fiquei, por mais que seja necessário ler e ouvir outros veículos, sempre.

Ai meu Deus, empolguei no comentário...hehehe. Fui!

Abraço,

=]
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http://cafecomnoticias.blogspot.com

Danton K disse...

sinceramente, eu tenho esperança q mude. acho q já começou bem, fechando guantanamo. mas nao dá pra esperar milagres. aliás, oq os americanos querem nao é isso, mas "apenas" sentir orgulho do seu país novamente. belo blog, vai pros favoritos

Diego Rodrigues disse...

Todos têm esperança de que com Obama, as coisas mudem. Eu tenho certeza que Obama não vai mudar o mundo; não vai. Ele ainda é o presidente dos EUA, e as mudanças para aquele país é que vao valer.

Agora, que Obama vai dar uma trégua para as guerras, isso eu acho que ele vai. Pelo menos é o que eu espero do governo, que promete ser um dos melhores dos últimos tempos.

Carlos Gregorio Junior disse...

concordo

desde de qdo tem esse blog?

parabens

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