Análise da obra "Maíra", de Darcy Ribeiro
Por mais que pareça improvável, a união de três matrizes diversas deu origem à nação brasileira. Três povos – os silvícolas Tupis, os negros (bantos e sudaneses) e os brancos europeus – que se entrelaçam e se afastam, complementando uns aos outros em um contexto trial.
Desde os tempos da chegada portuguesa, uma infinidade de erros e desmandos foram cometidos pelos caraíbas contra os índios que nesta pátria habitavam e consolidaram sua cultura cerca de dez mil anos antes do “descobrimento”.
A obra, ao seguir a toada de uma missa, faz alusão à chegada lusitana na Terra de Vera Cruz, assim como remete à catequese que aculturou os silvícolas, submetendo-os a uma cultura monoteísta, trazida pela Companhia de Jesus.
Avá é o exemplo da heterogeneidade brasileira. Ele se divide entre a visão religiosa e os rituais mairuns. Além do mais, incorpora a identidade de Isaías, um resquício de esperança de que ele fosse tal qual o profeta, o anunciador do Cristo e, no contexto de “Maíra”, o civilizador.
A colonização foi o fator preponderante para a consolidação de um “Brasil de Contrastes”, de múltiplas identidades e ecos. Brasil este, descrito na prosa de Oswald de Andrade, ícone do Modernismo Nacional e autor dos manifestos Antropófago e Pau-Brasil, que absorveram as qualidades, deglutinando-as para enfim, formar uma verdadeira nação: homogênea e com uma identidade sólida.
Uma nação em que silvícolas, caraíbas e afro-descendentes se aceitem em prol de uma identidade nativa, de raízes firmes tais como a do pau-brasil.
* O amigo internauta não enganou-se de blog. Propomos a você, em nosso retorno ao universo da web, uma maior versatilidade, como forma de atenuar os furos consecutivos com você que nos acompanha e sabe o quão dura é a tarefa de conciliar estudos, estágios e atividades bloguistas.
7 comentários:
Oi, Lucas!
Finalmente vcs voltaram a ativa, aleluia. Gostei da resenha do livro é uma dica e tanto...até lembrei da época dos livros literários do vestibular.
Abraço,
=]
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Lu, quanto mais miscigenação melhor, né? E ninguém tão bom quanto Darcy Ribeiro pra retratar isso. A resenha está impecável. Vc podia escrever sobre cultura... hahahahaha!
Adorei a volta, já estávamos órfãos.
Beijos carinhosos!
Legal esse post novo, voltado para a cultura. Vocês estão certos em serem versáteis, afinal jornalismo é isso também. Aguardo novos post desse excelente blog (já tava com saudade). Abraços.
Sei sim como é buscar conciliar várias atividades...
E muito bom a volta sem fronteiras, com maior abrangência de conteúdo.
Afinal, se é da essência brasileira a miscigenação, então, porque não tratar de temas tão amplos quanto o nosso povo...
Penso que a formação do povo brasileiro é algo ímpar, não havendo coisa semelhante no mundo. Parece que fomos o ponto de convergência de todo tipo de gente, cultura, concepção. Portanto, que fique o ideal a que você nos convoca, Lucas, de identidade e unidade, sem nenhuma espécie de divisão hostil.
Até mais, e bom retorno!
É um assunto muito importante para entender a nossa identidade.
Para se ter uma idéia, 68% dos negros que para o Brasil vieram como escravos eram da região que hoje chamamos hoje de Angola - o que isto significa? Que de cada 10 negros, pardos ou mulatos praticamente 7 carregam algum traço étnico comum ao povo angolano.
E o que aprendemos na escola sobre Angola? Nada, absolutamente nada. Deveria ser constrangedor para todo e qualquer brasileiro não saber, por exemplo, que Angola foi colonizada por Portugal, que fica na África, que por lá se fala português e que a capital é Luanda. Do outro lado do Atlântico, vemos um povo angolano que sente uma profunda identificação cultural com o Brasil e que conhece muito mais da história do Brasil que muitos brasileiros - será somente pelo futebol e pela Rede Globo ou realmente somos parecidos com eles?
Só lembrar que Angola está na posição 162 do IDH enquanto que o Brasil "comemora" sua entrada no clube dos países com alto índice de desenvolvimento humano. Alguma coisa está errada.
Maíra, de Darcy Ribeiro. Grande história, excelente livro e um caso de amor à antropologia, à natividade brasileira, representada nos seus mais diversos traços sintetizados pelos mairuns e por Avá, sinal do novo índio, que freqüenta as escolas e participa ativamente das decisões políticas do país.
Darcy fez do exílio, porta para a criação de uma das mais completas obras da literatura nacional, rara, no que diz respeito ao tratamento dado à questão sincrética. Adoro esse livro. Fantástico!
Abraços.
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