Dominar, uma vocação estadunidense. Quem disse? O “Destino-Manifesto”, a crença que aqueles nascidos nos Estados Unidos da América estariam divinamente destinados ao expansionismo pós-independência, ajudado pelo "Homestead Act", que impulsionou o massacre de índios e a tomada de terras ao oeste que, mais tarde, fariam do país uma potência agrícola e pecuarista, além de render dividendos com o petróleo e criar neste povo o estigma de superioridade racial.
O’Sullivan, criador do termo, suscitaria nos estadunidenses o desejo de ultrapassar os limites entre os oceanos Pacífico e Atlântico, caminhando rumo a novas terras ao sul, e a outros continentes, inaugurando em tempos de corrida imperialista, a política do
Big-Stick (Grande Porrete), fundamental para o domínio de países latino-americanos por meio da Doutrina Monroe - “América para os Americanos” - e territórios fora deste eixo, dentre eles, as Filipinas e o domínio conjunto de áreas no mundo árabe.
Por essas e outras, as relações exteriores dos Estados Unidos se mantiveram conflituosas até hoje. Sem fugir aos fatos, o
Sem Fronteiras traz a você, alguns desses entraves diplomáticos, que mais uma vez recaem sobre um novo presidente eleito por aquele país. No caso, Barack Obama.
Castrismo e bolivarismo: pró-esquerda? Anti-ianqueA esquerda surgiu na vida dos estadistas Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales como saída para a luta anti-ianque, ou seja, a batalha contra os Estados Unidos. O país da América do Norte submeteu cubanos, venezuelanos e bolivianos a regimes militares bancados pelos governos estadunidenses. Fulgêncio Batista em Cuba, o aliado ianque Carlos Pérez na Venezuela e o golpe totalitário de “
Novios de la muerte” na Bolívia, propiciaram revoltas nestes países, que decorreram na Revolução Cubana de 1959 - quando Fidel chegou ao poder - e as eleições dos nacionalistas Chávez (Venezuela) e Evo (Bolívia).
Os três compõem a ala mais radical à ação dos Estados Unidos na América Latina. A postura deles modificou-se em decorrência dos fatos e o socialismo surgiu como uma possibilidade de chegar ao poder ou de estabelecer um regime político inverso ao capitalismo ianque.
A “Crise dos Mísseis” em 1962, no período Kennedy e o embargo econômico imposto pelo país na Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1964, foram os episódios mais marcantes dessa relação conflituosa entre a esquerda latino-americana e estadunidenses. A desativação de Guantánamo, prisão onde ficam terroristas e homens tidos como “perigosos” pelos Estados Unidos, surge como primeiro ato de Obama para uma gradual e difícil reconciliação com o regime cubano, que certamente não terminará com ele. (
Imagem - Galizacig)
O retorno dos sandinistas à NicaráguaA intervenção estadunidense na Nicarágua de 1907, que derrubou Zelaya e instaurou um governo alinhado com a política ianque, fez eclodir duas revoluções populares: em 1912 e 1926, sendo a última liderada por César Augusto Sandino e seus amigos, que cederam à promessa de eleições diretas e livres. O guerrilheiro Sandino fora executado em 1934, por Anastácio Somoza, aliado dos Estados Unidos e primeiro ditador da dinastia hereditária que comandou o país entre 1936 a 1979, com o último Somoza exilado e depois assassinado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
A FSLN seguiu o legado do revolucionário assassinado, ao formar uma organização guerrilheira com forte apoio de camponeses sem terra, que lutaram contra a Guarda Nacional entre 1976 a 1979 e colocaram uma Junta de Reconstrução. Esta se debateu frente aos “Contras”, grupo opositor aos sandinistas, bancado pelos Estados Unidos.
Só em 1984, eleições populares estabeleceram Daniel Ortega como presidente. Economista e esquerdista, Ortega radicalizou a situação contra o governo ianque, que agiu com um embargo total, só suspenso com a eleição de Violeta Chamorro em 1990. Ortega retornou em 2006, com idéias social-democratas. Contudo, a conciliação com os Estados Unidos deve ser facilitada com Obama, já que Ortega considera sua vitória um milagre e a chegada de um símbolo da imigração e do povo ao poder
(Imagem - FSLN/ El Quinto Infierno)O regime “socialista” de Pyongyang
Desde o armistício de 1953, trégua e separação da Coréia - entre Sul capitalista e Norte socialista -, as relações do governo de Pyongyang com os Estados Unidos são bastante turbulentas, parecidas com as de Cuba. Os norte-coreanos, por exemplo, capturaram os tripulantes espiões do navio ianque USS Pueblo em 1968, e após 11 meses de negociação com Washington, liberaram seus membros.
Em reação a este e outros fatos, os Estados Unidos com Reagan colocaram a Coréia "socialista" no grupo dos terroristas em 1988, impondo ao país asiático, várias sanções. Um ano depois, descobre o projeto nuclear norte-coreano, que é suspenso pelo general-presidente Kim Jong-II, depois da queda das sanções.
O governo Bush reacende as discussões, denominando a Coréia do Norte como país pertencente ao “Eixo do Mal”. Em contrapartida, o governo de Pyongyang declara-se potência nuclear, qualifica com inútil qualquer reconciliação e lança de oito a dez mísseis em 2006, entre eles um Taepeng, capaz de chegar ao litoral norte dos Estados Unidos.
Um acordo multilateral entre EUA, Rússia, China, Japão e as duas Coréias fora tentado, uma ajuda econômica foi iniciada, mas os norte-coreanos surpreenderam, dizendo não liberar a inspeção de seus reatores aos estadunidenses - algo que difere do que fora veiculado na mídia ocidental.
E, ao que tudo indica, a Coréia “socialista” continuará seu jogo "
tongmi bongnam" (abre e fecha) com Obama, deixando brechas para negociar e ao obter uma vantagem, regressará às velhas discussões. (
Imagem - Kin Jong-II/ Geomundi)